A Inteligência Artificial (IA) emergiu como uma ferramenta essencial na transformação do varejo e do trade marketing, permitindo uma compreensão aprofundada do comportamento do consumidor e otimizando operações de vendas e promoções. Essa revolução tecnológica foi tema central em um painel no Latam Retail Show, mediado por Marcelo Antoniazzi, CEO da Gouvêa Consulting. O debate contou com a participação de executivos de peso: Sam James, do Grupo Carrefour; Felipe Votisch, da Nestlé; e Alisson Calgaroto, do Grupo Soma.
A Revolução da IA no varejo
Antoniazzi abriu o painel destacando números impressionantes: a adoção da IA resultou em um aumento de 45% na produtividade dos funcionários e uma redução de 20% nos custos operacionais nas empresas que a implementaram. Segundo ele: “A IA não é apenas uma ferramenta operacional, mas um diferencial estratégico que permite personalizar o atendimento e entender profundamente o cliente”.
Com isso, a personalização, viabilizada pela IA, surge como um elemento-chave. Através da análise de dados em larga escala, as empresas podem oferecer experiências únicas aos clientes, desde recomendações de produtos até interações via chatbots que atendem às necessidades específicas de cada consumidor. Além disso, a IA tem se mostrado eficaz na gestão de estoques, logística e até na detecção de fraudes, aumentando a segurança nas transações.
Nestlé: transformando dados em ações concretas
Felipe Votisch, diretor de Trade Marketing e Merchandising da Nestlé, compartilhou como a empresa utiliza IA e machine learning há mais de quatro anos para interpretar dados de consumo em mais de 4 mil pontos de venda. Com um portfólio diversificado que inclui 13 categorias e 145 subcategorias, a Nestlé conseguiu identificar padrões de compra que antes passavam despercebidos.
“Descobrimos que 75% das pessoas que compram Nescau também levam Leite Moça, indicando uma intenção de fazer brigadeiro. Com essa informação, podemos criar promoções combinadas que atendem exatamente ao desejo do consumidor”, explicou Votisch. Com uma precisão de 94% nas análises, a empresa consegue prever quais produtos terão maior demanda em determinadas regiões, permitindo campanhas de marketing e promoções regionalizadas mais eficazes.
Carrefour: mensuração e otimização como foco estratégico
Sam James, Chief Digital Officer do Carrefour, enfatizou que a empresa tem uma “obsessão por mensurar” os retornos sobre os investimentos em IA. Focando em áreas centrais como abastecimento, sortimento e precificação, o Carrefour conseguiu um retorno de 2,5 vezes o valor investido até julho.
Um exemplo prático foi a otimização do fornecimento promocional, onde a IA ajudou a reduzir em 4% o estoque residual sem impactar negativamente as vendas. Além disso, o uso de machine learning na gestão de produtos perecíveis resultou em uma redução de 10% nas perdas de itens como alface. “Mesmo com impactos variáveis, cada melhoria representa um avanço significativo no nosso modelo de negócio”, destacou James.
O executivo também mencionou a aplicação da IA em áreas como recursos humanos e jurídica, prevendo resultados em processos trabalhistas e acordos, o que pode representar economias bilionárias. “A IA nos permite antecipar cenários e tomar decisões mais informadas, gerando valor em múltiplas frentes”, completou.
Grupo Soma: inovação no desenvolvimento de produtos e experiência do cliente
Alisson Calgaroto, diretor de Tecnologia e Inovação do Grupo Soma, que engloba marcas como Animale e Farm, revelou que a empresa utiliza IA desde 2016 para impulsionar a criatividade e a eficiência no desenvolvimento de produtos. A tecnologia auxilia na criação de estampas, paletas de cores e no teste de potencial de sucesso das peças com as vendedoras, otimizando o mix de lançamento.
“A IA libera as estilistas para se concentrarem na curadoria e na inovação, enquanto a tecnologia cuida das análises preditivas”, explicou Calgaroto. Além disso, a personalização do atendimento é aprimorada ao identificar o melhor canal e momento para impactar cada cliente, aumentando significativamente a taxa de conversão.
“Percebemos que os métodos tradicionais de segmentação atingiram seu limite. Precisamos entender não apenas quem é o cliente, mas qual é a probabilidade de conversão em tempo real e qual o canal mais eficaz para atingi-lo”, acrescentou.
Análise e Perspectivas Futuras
A adoção da IA no varejo e no trade marketing não é mais uma tendência futura, mas uma realidade presente que redefine as estratégias de negócios. As empresas que conseguem integrar a IA de forma eficaz estão obtendo vantagens competitivas significativas, seja na redução de custos operacionais, na otimização de estoques ou na personalização da experiência do cliente.
No entanto, a implementação bem-sucedida da IA requer mais do que investimentos em tecnologia; exige uma mudança cultural que valoriza a inovação e a tomada de decisões baseada em dados. As empresas devem estar dispostas a rever processos internos e capacitar suas equipes para extrair o máximo potencial das ferramentas de IA.
A Inteligência Artificial está redefinindo os paradigmas do varejo e do trade marketing, oferecendo insights valiosos sobre o comportamento do consumidor e otimizando operações em diversos níveis. Os cases apresentados no Latam Retail Show ilustram como empresas líderes estão aproveitando essa tecnologia para impulsionar resultados e criar experiências mais significativas para os clientes.
Em um mercado cada vez mais competitivo, a capacidade de interpretar dados e agir rapidamente se torna um diferencial crucial. A IA, quando bem aplicada, não é apenas uma ferramenta tecnológica, mas um motor de transformação que pode levar as empresas a novos patamares de eficiência e inovação.
Fonte: Mercado & Consumo – Edição 18.09.24